O conhecimento é um processo gradativo, e as instituições, ao longo dos anos, investem na formação continuada de seu efetivo, de maneira a atualizar seus colaboradores frente às novas demandas tecnológicas e ao mercado de trabalho. Todavia, dois fatores preocupam as empresas e instituições: a rotatividade e a saída de colaboradores detentores do conhecimento, que levam consigo a informação, por vezes vital para a instituição. Na área nuclear, em especial, a falta de concursos públicos acabou por impactar negativamente na produtividade nos mais diversos setores. Entretanto, gerenciar, compartilhar e dispor o conhecimento a favor da instituição não é tarefa fácil. Segundo Snowden (2003), sempre se sabe mais do que se diz, e se diz mais do que se escreve, e normalmente só se percebe a dimensão desse conhecimento quando é preciso utilizá-lo. A Gestão do Conhecimento torna-se mais do que nunca uma necessidade e um desafio.
Gestão do Conhecimento não é assunto novo. Já no final da década de 90, Dave Snowden tornou-se uma das grandes referências em economia do conhecimento, propondo no contexto da Gestão do Conhecimento e estratégia organizacional, a gestão do conhecimento em três modalidades distintas e complementares, a saber: a gestão do conteúdo (registro ou disponibilização da informação), a gestão do contexto (ambientes virtuais colaborativos) e a gestão da narrativa (vídeos, workshops, relatos de experiência, serviços de indexação). A Gestão do Conhecimento inclui, pois, a complexa tarefa de mensurar e compreender o conhecimento metodológico, aumentando a precisão na maneira de mapeá-lo, avaliá-lo e posteriormente comparar os diversos níveis de conhecimento que circulam dentro da instituição. Assim, é possível traçar estratégias de compartilhamento de conhecimento, bem como diferentes formas de registrar informações, de maneira a identificar a melhor forma de gerir a informação e criar soluções propícias à transferência do conhecimento.
Na área nuclear, percebe-se nos últimos anos um crescente número de trabalhos científicos, artigos e relatos de experiências para incentivar as instituições a prosseguirem seus esforços na busca de soluções para a sistematização do conhecimento institucional. Conhecendo as ferramentas necessárias e disponíveis no ambiente organizacional, é possível trabalhá-las de forma a extrair o máximo de proveito de cada uma delas, potencializando o compartilhamento do conhecimento e minimizando a fragmentação da informação e o impacto da rotatividade do quadro de colaboradores, o que beneficia a organização em seus mais diversos setores, frente ao trabalho das equipes e à gestão de planejamento, além de assegurar a continuidade de projetos em andamento.
Gestão do Conhecimento é um processo necessário e da mais alta complexidade. Há que compreender o conhecimento metodológico, mapeando, analisando e estabelecendo comparações dos diversos níveis de conhecimento a serem trabalhados. Há que se definir estratégias direcionadas de acordo com a cultura organizacional de cada instituição, de modo a focar a transmissão do conhecimento tanto nos campos de trabalho quanto nos comportamentais, os processos que definem a forma como a instituição organiza seus recursos no campo do conhecimento devem ser constantemente revistos e eventualmente reestruturados de maneira que se atinja a expectativa de futuro almejada por cada instituição.
Você se interessa pelo tema? Gestão do Conhecimento está entre as áreas temáticas da International Joint Conference RADIO 2022. Submeta seu trabalho. Prestigie as apresentações e pôsteres. Aprenda mais conferindo os anais do evento!
O evento acontecerá no Chile entre terça-feira, 26 de julho, e sexta-feira 29 de julho de 2022, em modalidade híbrida (presencial na cidade de Santiago e virtual via zoom). A terceira edição do evento se dará em continuidade aos Simpósios I e II, realizados respectivamente em Cusco (2015) e em Buenos Aires (2017). O simpósio é organizado pela Universidad Tecnológica Metropolitana (UTEM) e Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación (UMCE), patrocinado pela Comisión Chilena de Energía Nuclear e recebe o apoio da Red Latinoamericana para la Educación y Capacitación en Tecnología Nuclear (LANENT) e Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os valores para a inscrição são US$ 100.00 para profissionais e US$ 50.00 para estudantes.
A temática da educação, disseminação e gestão do conhecimento é instigadora e tem se revelado assunto da maior importância para a área da Tecnologia Nuclear. Por esta razão, os organizadores estabeleceram sete eixos organizadores que contemplam os interesses plurais dos profissionais e estudantes da área. São eles:
Fique atento às datas e prepare seu resumo. Cabe ressaltar que o evento na modalidade presencial estará condicionado à situação sanitária diante da COVID-19.
Para saber mais
A nossa Newsletter traz mensalmente entrevistas nas diferentes áreas de interesse para os radioprotecionistas. Este mês entrevistamos a Dra. Rita Izabel Ricciardi que desde os anos 2000 já desenvolvia importantes trabalhos na área de Gestão do Conhecimento, junto ao IPEN-CNEN/SP, que podem hoje inspirar profissionais de diversas áreas de atuação em diferentes instituições.
DENISE LEVY: Dra. Rita, você desenvolveu um trabalho de Gestão do Conhecimento junto ao Centro de Radiofarmácia do IPEN. Em que consistiu a metodologia deste trabalho e quais foram seus objetivos?
RITA IZABEL RICCIARDI : O objetivo principal do trabalho foi propor uma metodologia para a implantação da Gestão do Conhecimento (GC) nas organizações que visa identificar, estruturar e analisar os recursos de conhecimento que contribuem para o alcance dos objetivos estratégicos e metas das organizações e que, ao mesmo tempo, apresentem riscos para os trabalhos organizacionais e também diagnostique os porquês desses riscos. Esta metodologia foi testada e aplicada no Centro de Radiofarmácia do IPEN, permitindo apresentar um conjunto de iniciativas de GC, alinhada à estratégia do Centro e que também se preste a solucionar os problemas organizacionais referente a conhecimento.
DENISE LEVY: Quais as principais ferramentas usadas para identificar e avaliar os conhecimentos estratégicos e sistematização dos conhecimentos?
RITA IZABEL RICCIARDI : A metodologia articula a conjunção dos seguintes processos:
DENISE LEVY: Quais as conclusões e ações propostas a partir dos resultados obtidos para compor sua proposta de Gestão do Conhecimento?
RITA IZABEL RICCIARDI : A partir das análises dos conhecimentos críticos e estratégicos obtém-se uma visão global bastante abrangente de todas as áreas da organização. A análise crítica, feita com os trabalhadores, proporciona uma abordagem mais operacional ou "botton up" do estado crítico dos conhecimentos para o desenvolvimento dos trabalhos. A análise estratégica obtida com a interação dos agentes decisores da organização, traz uma percepção mais gerencial "top down" sobre a relevância estratégica dos conhecimentos. O confronto das duas vai mostrar um ponto de vista mediano ou "middle top-down", trazendo uma visão integrada da organização. Os resultados das análises e das "crtiticidades" dos conhecimentos proverão de informações corretas para a sugestão de ações de Gestão do Conhecimento. Também, podem ser identificados conhecimentos ou capacidades que devem ser desenvolvidas. O estudo dos processos foi relevante pois permitiu uma visão bastante completa do capital do conhecimento existente no centro e a estruturação deste capital em domínios revelou-se importante no que tange à facilitação da visualização dos conhecimentos. Isso também facilita a criação de um diretório de especialistas muito mais preciso e completo, ligado às suas áreas de competências.
DENISE LEVY: A seu ver, quais os principais problemas de transmissão que enfrentam as instituições na área nuclear?
RITA IZABEL RICCIARDI : A meu ver, na área nuclear as pesquisas em Gestão do Conhecimento devem ser focadas nos métodos de captação, transferência, formalização, preservação e desenvolvimento de novos conhecimentos para sanar ou mitigar problemas operacionais devidos à perda de conhecimento com aposentadorias, transferências e redução de quadro de pessoal etc. Deve ser considerado, ainda, que a área nuclear demanda conhecimento tecnológico específico, cuja capacitação de seu pessoal, no caso do IPEN, por exemplo, em muitos casos, se deu através de transferência de tecnologia do exterior por meio de cursos e treinamentos para a formação de pessoal. Além disso, todas as atividades na área nuclear devem atender às normas nacionais e recomendações internacionais de proteção radiológica, onde se demanda grande investimento e tempo para a formação de pessoal especializado. Todos esses conhecimentos devem ser preservados na instituição.
Rita Izabel Ricciardi trabalhou, entre outros, como Analista em Ciência e Tecnologia no IPEN, onde desenvolveu pesquisas na área de Gestão do Conhecimento. Graduada em Ciências Sociais pela USP, com mestrado em Gestão Tecnológica/ Gestão do Conhecimento pelo IPEN/USP (2003), duplo doutorado em Ciências pelo IPEN/USP e TELECOM & Management Sud-Paris, França, nas áreas de Gestão do Conhecimento e Engenharia do Conhecimento (2009). Atualmente, participa em Grupo de Trabalho em GC coordenado pelo Prof. Dr. Jean-Louis Ernine e também colabora na infraestrutura de GC com foco em um Repositório de Dados Científicos Digitais do IRD/CNEN. Foi professora colaboradora no programa de pós-graduação IPEN-USP na disciplina "A Gestão do Conhecimento no Contexto da Gestão da Tecnologia e da Inovação".
Para conhecer mais
Fundada em 1986, a Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica é uma entidade técnico-científica sem fins lucrativos, filiada a International Radiation Protection Association (IRPA) e a Federación de Radioprotección de América Latina y el Caribe (FRALC). Sua missão:
Conforme estabelecido em assembleia de 08/12/20, a anuidade da SBPR tem redução de 25% para o ano de 2021. A nova diretoria da SBPR propôs uma redução expressiva no valor da cota associativa uma vez que em 2020 a mesma havia sofrido um reajuste de 100% em relação ao ano anterior (valor para associados efetivos: R$60,00 em 2019 e R$120,00 em 2020). Na referida assembleia, o presidente da SBPR, Dr. Josilto de Aquino explica aos presentes que:
Após deliberação em assembleia, fica instituída a anuidade de R$90,00 para sócios efetivos e R$45,00 para técnicos e estudantes.
Salientamos que a manutenção da SBPR é garantida pelas contribuições dos associados através do pagamento de anuidades e pela dedicação dos membros no fortalecimento da proteção radiológica no país.
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O presidente da SBPR, Josilto de Aquino, agradece a todos que contribuíram para a elaboração desta newsletter: Denise Levy, Alfredo Lopes Ferreira Filho, Nivaldo Carlos da Silva e João Carlos Videira José (Catalão).