O congresso regional IRPA, que este ano foi realizado em Santiago, no Chile, é um dos eventos mais importantes da América Latina para a troca de informações e experiências entre os profissionais de proteção radiológica e segurança nuclear da América Latina e Caribe. Muitos temas de suma importância foram apresentados em plenárias e palestras e merecem discussões mais aprofundadas. Tomam-se como exemplos a conferência de Bernard Le Guen, presidente da IRPA (International Radiation Protection Association), sobre a revisão do sistema de proteção radiológica, a plenária de Ruben Ferro sobre a importância e os principais entraves para a implementação da cultura de segurança nas organizações em toda AMC, e a palestra do Dr. Rodolfo Touzet sobre os sistemas de radioproteção para radiações não ionizantes. Dentre esses três exemplos, talvez o menos difundido entre a comunidade de radioproteção é a questão das radiações não ionizantes que, de acordo com Dr. Touzet, apenas há poucos anos começa a ter diretrizes mais estritas e estudos mais aprofundados. Verdade é que nos últimos anos, em importantes congressos de proteção radiológica, foram iniciadas discussões e aproximações sobre os sistemas de controle entre radiações ionizantes e não ionizantes, após o que a OMS inicia um projeto cuja problemática aponta justamente que até então não havia um sistema de controle para as radiações não ionizantes. Essa foi a mensagem transmitida no IRPA 15 em Seul.
Efetivamente, a ICNIRP (International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection) foi criada pela IRPA em 1992, porém não havia experiência prévia na temática, a tentativa na década de 90 não proporcionou os avanços esperados e foi apenas em 2020 que publicou um conjunto de diretrizes consistentes para limitar a exposição a campos eletromagnéticos, publicação que toma por referência os princípios básicos de radioproteção da ICRP 103 e o projeto da OMS. Esta guia informativa - e não prescritiva - aborda inclusive novas tecnologias wifi, 5G e telefonia celular e substitui por completo a antiga publicação de 1998. A palestra discutiu igualmente normativas internacionais que podem auxiliar as autoridades competentes nacionais, como por exemplo da Organização Mundial do Trabalho e a importância das Sociedades Nacionais de Proteção Radiológica tomarem para si a tarefa de colocar a temática em pauta em seus países, com a importância que o assunto merece. Nesse sentido, a SBPR (Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica) conta com uma secretaria de Radiações Não Ionizantes, sob a direção de Altair Souza de Assis. Também a FRALC (Federación de Radioprotección de América Latina y el Caribe) participa dos esforços coletivos promovendo um grupo de trabalho na temática das radiações não ionizantes, grupo esse liderado por Rodolfo Touzet e que integrará profissionais de diferentes países, nominados pelas sociedades nacionais. Interessado em tomar parte nessas discussões? Entre em contato com a SBPR.
Para saber mais:
Perguntas Frequentes (FAQs) relativas às Recomendações ICNIRP 2020 para Campos Eletromagnéticos de Radiofrequência - disponível em português
ICNIRP GUIDELINES FOR LIMITING EXPOSURE TO ELECTROMAGNETIC FIELDS (100 KHZ TO 300 GHZ) - disponível em inglês
Representantes da diretoria da SBPR estiveram presentes no IRPA Chile, contribuindo para a expressiva participação dos Brasileiros neste importante congresso. O presidente da SBPR, Josilto de Aquino, que também integra o Comitê Internacional do evento, participou na mesa sobre "Desafíos del licenciamiento de NORM en la industria de minería y O&G", com Walter Truppa (ARN) e Analía Canova (IAEA). O secretário da SBPR, João Carlos Videira, teve participação em duas importantes palestras sobre radiografia industrial, com os temas "Radiofobia: La evolución de la Radiografía Industrial en Brasil y la búsqueda de seguridad y productividad" e "Ventajas obtenidas en radioprotección al utilizar ensayo de Radiografía Computarizada en Plantas de Proceso". Alfredo Lopes Ferreira Filho, Secretário Regional para o Rio de Janeiro, participou da mesa redonda sobre "Comunicación y difusión del conocimiento" apresentando a BJRS, revista científica editada pela SBPR que atualmente integra em seu corpo editorial doutores de diferentes países da América Latina, conferindo ao periódico maior internacionalização e melhor indexação em um futuro próximo. A palestra "El rol de las revistas científicas para el fortalecimiento de las Sociedades y la protección radiológica" é um tema atual e mobilizador, sobretudo porque publicará um número especial para o congresso IRPA Chile. Também a secretaria de comunicação institucional da SBPR esteve representada com Denise Levy, com duas apresentações: "El efecto de la comunicación de masas en la percepción del riesgo" e "Irradiación de alimentos: oportunidades y desafíos en Brasil".
O Brasil esteve bem representado em diferentes temáticas, palestras, cursos e apresentações orais. Confira algumas delas:
O congresso IRPA Chile foi uma oportunidade de reencontro entre as sociedades nacionais da América Latina. O Brasil demonstrou na reunião promovida pela IRPA (reunião das Sociedades) sua participação ativa promovendo a comunicação entre radioprotecionistas em Território Nacional. Na reunião da FRALC, o Brasil demonstrou sua contribuição em nível internacional em diversos setores, tais como a promoção de um periódico científico para ALC e ações para a comunicação institucional da FRALC. Além disso, já está em andamento a organização conjunta de um evento para os países do Cone Sul, uma iniciativa da SBPR, para somar esforços com Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.
A nossa Newsletter traz mensalmente entrevistas nas diferentes áreas de interesse para os radioprotecionistas. Este mês trazemos a entrevista a Viviana Esperança, que trabalha na Autoridade Reguladora Nuclear na Argentina (ARN) coordenando cursos e treinamentos para socorristas em Emergências Radiológicas e Nucleares.
DENISE LEVY: Você apresentou no Congresso do IRPA, em 26/10/2022, o trabalho oral "Exercício Virtual para aplicação do Plano de Emergência Nuclear do Complexo Nuclear de Atucha 2021 no contexto de uma pandemia". Explique aos nossos leitores do que trata essa experiência.
VIVIANA ESPERANZA: Trata-se de um treinamento desenvolvido 100% virtual, exercendo sistemas de comando, fortalecendo a divulgação de medidas de proteção ao público, testando protocolos de ativação e comunicação de emergência e treinamento de organizações de resposta, onde a Autoridade Reguladora Nuclear coordena o referido treinamento juntamente com o operador em um raio de 10 km raio ao redor da usina, atua como Chefe de Operações de Emergência (JOEN) após a aplicação de contramedidas automáticas pelo operador junto aos órgãos de resposta locais, integra a mesa decisória do Centro de Operações de Emergência Nuclear (COEN) e executa as tarefas de monitoramento radiológico ambiental, veicular, a pé e aéreo, cumprindo a função de assessor radiológico. Foi possível estabelecer, usando a ferramenta online Arcgis, os controles de acesso a cargo da Polícia da Província de Buenos Aires no território e da Prefeitura Naval Argentina na área fluvial fora do raio de 10 km, a distribuição de iodo estável a cargo da Gendarmaria Nacional Argentina e da Prefeitura Naval Argentina em um raio entre 3 km e 10 km, a descontaminação de pessoas e veículos a cargo da Brigada de Riscos Especiais da Polícia Federal Argentina e do QBNR do Exército Argentino, entre outros cenários. Também foi disponibilizado espaço para a discussão e avaliação de uma emergência combinada: uma emergência nuclear e a pandemia de COVID, bem como os recursos afetados.
DENISE LEVY: Como funciona a estrutura do sistema de resposta a emergências na Argentina?
VIVIANA ESPERANZA: A Autoridade Reguladora Nuclear mantém um sistema de intervenção permanente para emergências radiológicas e nucleares (SIER/SIEN), que funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano e responde a situações que possam expor o público a radiações ionizantes não controladas. Este sistema planeja e coordena a implementação de ações de resposta em conjunto com outras organizações. No âmbito das atividades desenvolvidas na fase de preparação, é ministrada formação às organizações de resposta em todo o país, que poderão intervir como socorristas em caso de emergência. O Sistema de Intervenção de Emergência Radiológica (SIER) pode atender emergências em espaços públicos e em qualquer estabelecimento que manuseie material radioativo, ou que envolva a população, podendo ser acionado pelos usuários das instalações, pelas forças de segurança ou pela população. O Sistema de Intervenção de Emergência Nuclear (SIEN) trata de emergências causadas por acidentes em usinas nucleares, com consequências fora da instalação, e pode ser acionado pelo operador da usina, inspetores residentes ou pela Agência Internacional de Energia Atômica, desde que a Argentina cumpra a Notificação Antecipada e Assistência Tratado.
DENISE LEVY: Como foi a experiência com os treinamentos virtuais quantitativa e qualitativamente em tempos de pandemia?
VIVIANA ESPERANZA: Durante os anos de 2020 e 2021, a Subgestão de Intervenção em Emergências Radiológicas e Nucleares (SIERYN), teve de repensar estratégias e metodologias relativas à formação e à realização do Exercício Externo online. A equipe da SIERYN recebeu treinamento no uso de novas ferramentas e tecnologias de e-learning, como o uso de plataformas moodle, programas de produção de conteúdo como Geneally, Powton, Artículate Rise e plataformas para reuniões síncronas como Zoom, Meet e Team. Também foi utilizada a ferramenta de produção de cartografia digital ArcGis online. Essas ferramentas foram usadas tanto no treinamento quanto no Exercício do Complexo Nuclear Atucha 2021. Durante os anos de 2020 e 2021, foram ministrados treinamentos externos a mais de 1.500 pessoas, por meio de cursos, oficinas e divulgação sobre mecanismos e estratégias de proteção para melhorar as capacidades de resposta.
DENISE LEVY: Quais são as lições aprendidas para treinamentos futuros?
VIVIANA ESPERANZA: Diante de situações imprevistas, as ferramentas de trabalho permitiram cumprir a formação de pessoal do setor e dos setores envolvidos na resposta, bem como pessoal médico, toxicologista, enfermeiro, alunos do curso básico e do carreira de especialização, professores, diretores e auxiliares de estabelecimentos de ensino. A migração do material para os formatos digitais tem sido um trabalho árduo, mas muito satisfatório em conseguir cumprir as metas de treinamento e divulgação.
Viviana Esperança trabalha na Autoridade Reguladora Nuclear há mais de 15 anos, começando como pessoal administrativo nos laboratórios do Centro Atômico de Ezeiza e depois focando seu perfil na formação técnica para fazer parte do SIERYN. Coordena e treina cursos para Socorristas em Emergências Radiológicas com base no manual da AIEA e nas Medidas de Proteção contra acidente nuclear em estabelecimentos de ensino. Realiza treinamentos nacionais e internacionais. Na Argentina realizou: Curso Básico para Técnicos- ARN. Seminário Workshop "Radiação, Radioatividade e Meio Ambiente" - CAB-Instituto Balseiro. Medições de campo com detectores de radiação portáteis - ARN. E na arena internacional (AIEA): Workshop sobre Disposições para notificação e assistência em incidentes e emergências nucleares ou radiológicas. Curso Virtual Regional de Capacitação em Emergências Combinadas. Workshop sobre a implementação do Sistema Internacional de Informação de Monitoramento de Radiação (IRMIS). Workshop sobre Preparação e Resposta a uma Emergência Nuclear ou Radiológica Envolvendo o Transporte de Material radioativo, entre outros.
Fundada em 1986, a Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica é uma entidade técnico-científica sem fins lucrativos, filiada a International Radiation Protection Association (IRPA) e a Federación de Radioprotección de América Latina y el Caribe (FRALC). Sua missão:
Conforme estabelecido em assembleia de 08/12/20, a anuidade da SBPR tem redução de 25% para o ano de 2021. A nova diretoria da SBPR propôs uma redução expressiva no valor da cota associativa uma vez que em 2020 a mesma havia sofrido um reajuste de 100% em relação ao ano anterior (valor para associados efetivos: R$60,00 em 2019 e R$120,00 em 2020). Na referida assembleia, o presidente da SBPR, Dr. Josilto de Aquino explica aos presentes que:
Após deliberação em assembleia, fica instituída a anuidade de R$90,00 para sócios efetivos e R$45,00 para técnicos e estudantes.
Salientamos que a manutenção da SBPR é garantida pelas contribuições dos associados através do pagamento de anuidades e pela dedicação dos membros no fortalecimento da proteção radiológica no país.
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O presidente da SBPR, Josilto de Aquino, agradece a todos que contribuíram para a elaboração desta newsletter: Denise Levy, João Carlos Videira José (Catalão), Alfredo Lopes Ferreira Filho e Nivaldo Carlos da Silva.